Recentemente, a palavra nomofobia foi oficialmente adicionada ao Dicionário da Língua Portuguesa, refletindo a crescente preocupação com os efeitos da dependência digital. De acordo com o Portal Neo News, esse reconhecimento linguístico é um passo importante para legitimar a discussão sobre o impacto dos dispositivos móveis no bem-estar emocional das pessoas. O termo, que até então era pouco conhecido fora dos círculos acadêmicos, agora faz parte do vocabulário cotidiano, simbolizando uma mudança cultural profunda e necessária.
A nomofobia — derivada da expressão inglesa no mobile phone phobia — é caracterizada pelo medo irracional de ficar sem o telefone celular, seja por esquecimento, falta de sinal, bateria descarregada ou qualquer outro motivo que impeça seu uso. Embora ainda não seja considerada uma condição clínica formal pelos manuais psiquiátricos, como o DSM‑V, a nomofobia é amplamente reconhecida por profissionais da saúde mental como um tipo de dependência comportamental ligada à hiperconectividade.
O fenômeno teve seus primeiros registros documentados em 2008 no Reino Unido, quando uma pesquisa encomendava pelo correio britânico identificou que mais da metade das pessoas entrevistadas ficava ansiosa ou desconfortável ao se verem longe de seus aparelhos. De lá pra cá, o crescimento do uso de smartphones, especialmente entre os jovens, agravou ainda mais esse cenário. Estudos mostram que estudantes universitários e adolescentes são os mais afetados, com muitos deles apresentando sintomas severos de ansiedade ao ficarem sem seus celulares por curtos períodos.
A nomofobia pode se manifestar com sintomas tanto físicos quanto emocionais. Entre os sinais mais comuns estão sudorese, taquicardia, inquietação, irritabilidade e dificuldade de concentração. Em casos mais graves, o indivíduo pode experimentar crises de pânico semelhantes às de transtornos de ansiedade. Em ambientes como escolas, por exemplo, já se observou estudantes pedindo para não ficarem sem o aparelho, manifestando sinais de abstinência. Há inclusive relatos de pessoas que acordam durante a madrugada apenas para checar notificações ou se certificar de que o celular continua ao alcance.
O uso excessivo do smartphone estimula o sistema de recompensa cerebral, especialmente por meio da dopamina liberada com cada curtida, mensagem ou nova notificação. Esse ciclo de reforço positivo contribui para a compulsão e para o comportamento de checagem constante. A nomofobia, nesse sentido, também pode estar associada a outros transtornos, como depressão, fobia social, TDAH e transtorno do pânico. A relação é bidirecional: quem já tem uma condição preexistente tende a usar o celular como “refúgio” emocional, o que por sua vez agrava o quadro.
Para diagnosticar o nível de nomofobia, pesquisadores desenvolveram o NMP-Q (Nomophobia Questionnaire), já validado no Brasil, que avalia a intensidade da dependência com base em situações comuns de desconexão. Já o tratamento envolve, principalmente, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que ajuda a modificar padrões de pensamento disfuncionais relacionados ao uso do celular. Além disso, são recomendadas estratégias como limitar o tempo de uso, estabelecer momentos offline, evitar o uso do celular antes de dormir e, quando necessário, associar o acompanhamento psicológico a medicação.
Muitas pessoas ainda não percebem que estão desenvolvendo uma relação dependente com seus dispositivos móveis. Alguns sinais de alerta incluem sentir ansiedade ou irritação ao ficar sem o aparelho, não conseguir passar nem mesmo breves momentos sem checá-lo, ou usar o celular em situações inadequadas, como durante refeições ou conversas presenciais. Se você se reconhece nesses comportamentos, é importante repensar a forma como interage com a tecnologia. Para evitar a nomofobia, algumas dicas simples podem ser muito eficazes:
- Criar horários específicos para usar o celular;
- Manter o aparelho fora do quarto durante a noite;
- Ativar o modo “não perturbe” em determinados períodos do dia;
- Optar por momentos de lazer offline, como ler, caminhar ou conversar pessoalmente.
- Estabelecer “zonas livres de celular” na casa, como a mesa de jantar, também ajuda a retomar o equilíbrio nas relações e no autocontrole digital.
Em resumo, a nomofobia é um reflexo direto da era digital. Se por um lado a tecnologia nos aproxima e facilita a vida, por outro, sua ausência — ainda que momentânea — tem causado desconforto emocional real em muitas pessoas. Reconhecer essa condição como um problema é o primeiro passo para buscar o equilíbrio. A entrada da palavra no dicionário não só simboliza esse reconhecimento, como também abre espaço para que o tema seja discutido com mais seriedade nas escolas, cartórios, empresas e ambientes familiares.
Escrito por: Lourença Maria